segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

VINHO E TENDÊNCIAS - ARGENTINA


Um exercício interessante, além de degustar o vinho, é aquele de entender o desenvolvimento que os produtores de cada região buscam para seus vinhos; falo de cada região por se tratar de um fenômeno local, não podendo ser generalizado.
Para entender melhor considere que o clima é diferente em cada área geográfica, assim como o solo tem características distintas e as culturas são as mais diversas, razão pela qual as pessoas envolvidas no processo de produção e comercialização são as maiores interessadas em buscar sua própria vocação para tornar seus produtos inconfundíveis.

A Argentina, sobretudo Mendoza, pode ser considerada uma terra privilegiada para a vitivinicultura, um famoso enólogo europeu já disse anos atrás “A Argentina possui terroir superior aos de Chile, Califórnia e Austrália”, de fato é uma terra muito extensa, lembramos que se trata do 5º maior produtor mundial com mais de 12 milhões de hectolitros / ano.

Grande vantagem é o baixo índice pluviométrico que, dependendo da região, pode oscilar de 100 a pouco mais de 300 milímetros / ano; a videira precisa de algo em torno de 500 mm / ano e a diferença deve ser completada com irrigação, isso livra os argentinos do maior problema que os Gaúchos enfrentam, por exemplo, a grande incidência de chuva no fim do Verão, bem na época da colheita, problema que torna os vinhos do Brasil mais ácidos e com maturação mais problemática.
Para se ter uma idéia em Mendoza, por conta do clima seco, o vitivinicultor pode colher a uva quando achar mais oportuno, deixando até a mais completa maturação, conseguindo sem dificuldade fruta concentrada e repleta de açucares e demais nutrientes, certo que não haverá perigo de chuva de última hora para estragar um ano de trabalho.

Mesmo nesse quadro bucólico não é tudo um mar de rosas, em Mendoza também há alguns problemas, quando o vinhedo é mal suportado pela irrigação, nos anos de seca excessiva, pode ser necessário bombear água de poços profundos, com custos adicionais não indiferentes.

Outra questão delicada é representada pelas geadas, fator climático que ocorre periodicamente e que pode trazer sérios danos as videiras, se calcula que, 1/3 de colheita a cada 10 colheitas é perdido por causa das geadas.

O vento Zonda é outra complicação, mas a mais pitoresca é sem dúvida a chuva de granizo, que ocorre de vez em quando, com pedras de até ½ kg (foto abaixo), que matam até as vacas no pasto se atingidas na cabeça (assim contam certas histórias).


Porém, quando o clima coopera em Mendoza, com seus vinhedos de altitude e ampla excursão térmica, a colheita é um acontecimento fenomenal, não é a toa que as principais vinícolas argentinas, hoje, são de propriedade de grupos estrangeiros, investidores que apareceram na década de 90 e compraram muitas bodegas em dificuldade, investiram em modernidade e vinhedos e hoje estão disputando fatias de mercado no mundo todo com grande valentia, alguns exemplos: Chandon (Terrazas), Salentein, Septima, Monte Viejo, Alta Vista, Norton, Graffigna, Etchart, Michel Torino, Tapiz, Trivento, La Celia, O. Fournier e Doña Paula; parece que além do grupo Catena Zapata e Familia Zuccardi, ainda genuinamente argentinos, não sobrou muita coisa.


A grande sacada dos argentinos, hoje,  é a busca pelos vinhedos de altitude, colher uvas acima de 1.000 metros, possivelmente de vinhas velhas, é a tendência atual para a produção de qualidade, vejamos porque.
Em primeiro lugar precisamos ter em mente a geografia de Mendoza, um extenso altiplano, com quase nenhum morro ou elevação, tornando impossível a busca pelo micro clima para personalizar o vinho.
Além disso, acima de 1.000 metros de altitude, existe uma grande excursão térmica entre o dia e a noite, fator que concentra os açucares mais que nas altitudes mais baixas, deixando a fruta muito mais rica e o vinho mais alcoólico e concentrado.
Por último as vinhas velhas, com mais de vinte ou trinta anos, a pesar de serem muito pouco produtivas em quantidade de uva, produzem cachos muito mais repletos de nutrientes e de qualidade extremamente elevada.

Pelos motivos acima hoje podemos afirmar que a tendência para o vinho argentino de qualidade é a busca pela produção nos vinhedos velhos de altitude elevada e, se quisermos procurar um terroir mais badalado no momento, apontaria com certeza o Vale de Uco, onde são produzidos alguns dos melhores vinhos argentinos da atualidade.

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