quarta-feira, 20 de novembro de 2013

CONCURSO VINHO FEST FORTALEZA 2013

VINHOS PREMIADOS NA VINHO FEST FORTALEZA 2013

BEST – BUYS:

BRASIL
CASA VALDUGA RAIZES CABERNET SAUVIGNON 2010
Grupo Família Valduga – Campanha Gaucha - RS

PIZZATO RESERVA MERLOT 2010
Vinicola Pizzato – Vale dos Vinhedos - RS

DADIVAS PINOT NOIR 2012
Lidio Carraro – Serra do Sudeste – RS

ESPUMANTE CASA VALDUGA RESERVA BRUT 25 MESES 2010
Grupo Familia Valduga – Vale dos Vinhedos – RS

ARGENTINA
TOMERO MALBEC 2012
Bodega Vistalba – Vale de Uco – Importadora Domno do Brasil

AFRICA DO SUL
ROBERTSON CHARDONNAY 2010
Robertson Winery – Robertson Valley – Importadora Vinci

MEDALHAS DE BRONZE

BRASIL
ESPUMANTE CASA VALDUGA 130 BRUT (não safrado)
Grupo Família Valduga – Vale dso Vinhedos – RS

ARGENTINA
KAIKEN ULTRA MALBEC 2009
Bodegas Kaiken (Grupo Viña Montes) – Vale de Uco – Importadora Vinci

TILIA MERLOT 2011
Bodega Esmeralda (Grupo Catena Zapata) – Mendoza – Importadora Vinci

CHILE
ERASMO (Categoria Cabernet Sauvignon) 2007
Viña Reserva de Caliboro – Vale do Maule – Importadora Franco Suissa

TARAPACÁ GRAN RESERVA CHARDONNAY 2011
Viña San Pedro / Tarapacá – Vale de Leyda – Importadora Licínio Dias

FRANÇA
BOURGOGNE PINOT NOIR 2010
André Goichot – Cote d’Or (Beaune) – Importadora World Wine

MEDALHAS DE PRATA

ARGENTINA
DV CATENA MALBEC MALBEC 2009
Bodega Catena Zapata – Mendoza – Importadora Mistral

CHILE
ERRAZURIZ MAX RESERVA CABERNET SAUVIGNON 2009
Viña Errazuriz – Aconcagua – Importadora Vinci

CASA LAPOSTOLLE CUVÉE ALEXANDER MERLOT 2011
Casa Lapostolle – Vinhedo Apalta / Colchagua – Importadora Mistral

TALINAY PINOT NOIR 2010
Viña Tabali – Vale do Limari – Importadora Carballo Faro e World Wine

PORTUGAL
QUINTA DE CIDRÓ CHARDONNAY 2011
Real Companhia Velha – Douro – Importadora Barrinhas

FRANÇA
CHAMPAGNE VEUVE CLICQUOT PONSARDIN BRUT (não safrado)
LVMH – Champagne – Importadora Moet Hennesy

MEDALHAS DE OURO

BRASIL
PIZZATO DNA 99 MERLOT 2008
Vinícola Pizzato – Vale dos Vinhedos - RS

ESPUMANTE MARIA VALDUGA BRUT 2006
Grupo Família Valduga – Vale dos Vinhedos - RS

ARGENTINA
ALTOS LAS HORMIGAS RESERVA MALBEC 2007
Bodega Altos Las Hormigas – Vale de Uco – Imporrtadora World Wine

DV CATENA CABERNET CABERNET 2009
Bodega Catena Zapata – Vale de Uco – Importadora Mistral

ANGELICA ZAPATA CHARDONNAY 2010
Bodega Catena Zapata – Vale de Uco – Importadora Mistral

LUCA PINOT NOIR 2009
Laura Catena – Vale de Uco – Importadora Vinci

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

VINHO FEST FORTALEZA 2013 – PRODUTORES

ARGENTINA

BODEGA VISTALBA by CARLOS PULENTA. 
O nome da família Pulenta é ligado ao vinho mendocino há muitas gerações, já proprietários da Peñaflor, que venderam para adquirir a Bodega Trapiche vendida por sua vez no final da década de ’90 após seus vinhos terem alcançado o estrelado internacional. 
Carlos Pulenta se firmou no excelente vinhedo Vistalba, numa antiga propriedade da família, onde começou a trabalhar seguindo sua filosofia, perseguir um estilo de vinhos modernos, com personalidade e tipicidade marcante, a partir das uvas que melhor se adaptam àquele espetacular terroir que é Vistalba. 
Hoje Carlos Pulenta produz três cortes de Malbec, Cabernet Sauvignon e um pouco de Bonarda, em proporção variável, dependendo da safra, a exemplo dos grandes assemblages de Bordeaux. 
O Corte C é o vinho de entrada, com maturação parcial em barricas francesas, o Corte B é já considerado um Top Wine, enquanto o Corte A é o ícone da Bodega Vistalba e arremata notas altíssimas na crítica internacional. 
Paralelamente a estes vinhos a Bodega Vistalba produz a linha Tomero, varietais de excelente qualidade e boa relação qualidade x preço, a partir de uvas procedentes dos vinhedos de altitude do Vale de Uco, o enófilo de Fortaleza poderá apreciar estas preciosidades durante a Vinho Fest Fortaleza. 

VINHO FEST FORTALEZA 2013 – PRODUTORES

ARGENTINA

ALTOS LAS HORMIGAS. 
Quando, na década de ’90 os italianos Alberto Antonini e Antonio Morescalchi, se encantaram com o terroir de Mendoza e resolveram investir em vinhedos, descobriram que a terra que tinham escolhido tinha um proprietário mais antigo e feroz, as formigas negras de Mendoza, verdadeiras donas daquele vinhedo, em homenagem a elas a bodega que acabava de nascer seria batizada de Altos Las Hormigas.

Após tantos anos e muitos sucesso o empreendimento cresceu e o Malbec ali produzido alcançou uma qualidade impressionante, isto não é de se admirar quando se conhece um pouco a história destes homens e a verdadeira devoção que eles dedicam à terra e ao conceito de terroir, como Antonio explicou em recente viagem a Fortaleza neste ano, para produzir grandes vinhos é preciso “escutar” a uva, respeitando-a e alcançando assim o seu potencial maior. Além de grandes malbec, com destaque para o Reserva Vale de Uco, Altos las Hormigas engarrafa também um frutado e cativante varietal de Bonarda, vinho mais leve, jovem e de fácil consumo que, tenho certeza, conquistará muitos admiradores na Vinho Fest Fortaleza deste ano.

VINHO FEST FORTALEZA 2013 – PRODUTORES

ARGENTINA

KAIKEN. 

O nome desse ganso selvagem que cruza a Cordilheira dos Andes entre a Patagônia Argentina e o Chile inspirou o afamado enólogo chileno Aurélio Montes a batizar seu projeto na Argentina; projeto relativamente jovem, começou com dois varietais, Cabernet Sauvignon e Malbec, engarrafados na linha Reserva e Ultra (estes últimos Top Wine de alcance internacional) e conta hoje com uma gama bem mais ampla que estará em degustação na Vinho Fest, em tempo, raramente Kaiken fatura notas abaixo de 90 pontos em seus vinhos da linha Ultra; uma ultima curiosidade, parece que no caso de Kaiken o lado chileno fala alto, tanto que seu Cabernet Sauvignon é, frequentemente, considerado melhor que o Malbec, vale a pena conferir.

VINHO FEST FORTALEZA 2013 – PRODUTORES

ARGENTINA

LAURA CATENA. 

A filha do mítico Nicolas é hoje a alma e a organização da Bodega de família, além de atuar como diretora da Catena Zapata, Laura encontrou tempo para tocar alguns projetos pessoais de grande relevo: a linha de Top Wine Luca, que leva o nome do filho da enóloga, os vinhos La Posta, produzidos a partir de uvas de pequenos produtores cujos vinhedos estão localizados em regiões privilegiadas e que, sem a participação de Laura, não teriam como engarrafar suas preciosidades, sem esquecer do projeto Tilia, excelentes vinhos de relação custo – benefício cativante, estarão à disposição do enófilo que se dispuser a participar da Vinho Fest Fortaleza. 

VINHO FEST FORTALEZA 2013 – PRODUTORES

CATENA ZAPATA. 
Talvez o mais celebrado produtor da Argentina, pelo menos desde que este pais tornou – se referência mundial de vinhos de qualidade, após a consagração do Malbec como o varietal ícone do país platino.
Nicolas Catena Zapata já foi eleito produtor do ano por nada menos que a revista americana Wine Spectator enquanto a britânica Decanter e outras tantas publicações de peso mundial outorgaram – lhe honrarias semelhantes.

O grande mérito de Nicolas foi de acreditar que o vinho argentino podia sair de uma dimensão domestica de consumo, pautada numa produção de quantidade a baixo preço, e alcançar um patamar internacional; o caminho para isso Nicolas o encontrou nos vinhedos de altitude e na influência desta na qualidade da uva e, por conseguinte, dos vinhos, suas criações são hoje ícones argentinos e mundiais e estarão em degustação na Vinho Fest Fortaleza; nomes como Angelica Zapata, DV Catena e outros mais poderão ser degustados pelos participantes.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O CHIANTI CLASSICO

Colinas do Chianti com vista da cidade de San Gimignano 

O Chianti é sem duvida o vinho mais conhecido da Toscana, de renome mundial, seus vinhedos abrangem uma área muito vasta que cobre as colinas desta região no centro da Itália; do Chianti temos registros históricos que remontam ao ano de 1398, quando um tabelião da Idade Média se referia ao vinho produzido entre as Cidades de Firenze e Siena com o nome que no futuro designará o vinho talvez mais famoso da Itália.

De tanto famoso e procurado o Chianti se tornou sinônimo de venda certa no mercado interno e externo, tanto que, num passado recente, notadamente ao longo do século XX, graças à benevolência de alguns e a ganância de outros, sua área de produção aumentou muito alem das colinas originarias, incluindo áreas que originariamente não eram voltadas para viticultura e dando origem a um considerável crescimento de vinhos ostentando a cobiçada denominação no rotulo, situação que obviamente satisfez a demanda comercial, mas que não rendeu muita justiça à qualidade do vinho.

Para evitar uma derrocada geral na qualidade e uma confusão generalizada no comercio, os mais influentes produtores da região correspondente à antiga e histórica área de plantio, reconhecida oficialmente desde 1932, passaram a adotar o nome de Chianti Clássico, para designar os vinhos produzidos nas colinas tradicionais das províncias de Siena e Firenze; uma região de extensão bem menor quando comparada à área plantada do Chianti comum, mas certamente a alta vocação vitivinicola, responsável por uma qualidade superior dos solos e das uvas.

Chamado a zelar pela tipicidade do Chianti Clássico e para promover suas qualidades mundo afora, o Consórcio do Chianti Clássico, cujo símbolo é o já citado Galo Preto, desenvolve varias atividades promocionais, cursos e merchandising, a partir de sua sede histórica, um convento medieval que se debruça sobre as colinas sulcadas pelos vinhedos e pinceladas pelo verde claro das oliveiras, na cidade de Radda in Chianti.  

Hoje o Chianti Clássico é um vinho a Denominação de Origem Controlada e Garantida (DOCG) produzido a partir da uva emblemática da Toscana, a Sangiovese, em sua composição são admitidos outros varietais tintos incluindo os internacionais, como Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, na proporção máxima de 20%; muitos produtores, no entanto, preferem trabalhar com a Sangiovese em pureza.

O Chianti Clássico pode ser comercializado somente a partir do dia 1º de Outubro do ano subseqüente ao da colheita, aquele com a menção “Reserva” deverá ser submetido a um envelhecimento mínimo de 24 meses, três dos quais em garrafeira; o disciplinar não faz restrições referente ao tipo de recipiente para o envelhecimento, cabe ao produtor determinar o estilo de seu vinho escolhendo entre o tanque de aço inox, a pileta de cimento, o barril grande, a barrica ou o tonneaux francês de 500 litros. Todas as operações de vinificação e envelhecimento do Chianti Clássico devem acontecer obrigatoriamente dentro da região de produção.

O Chianti Clássico é um vinho de corpo médio, macio e com uma boa veia acida que favorece a harmonização com a gastronomia da região, como uma excelente bisteca “Fiorentina”, um corte bovino que corresponde ao contrafilé alto com osso, algo que lembra o T-Bone Steak, uma delicia, sobretudo quando retirado a partir de uma raça de gado local, a “Chianina”, originaria do Vale de Chiana.
Já o Reserva é opulento, mais encorpado, por vezes tânico, com uma estrutura mais importante, não tem nenhum problema em envelhecer, embora não seja esta sua característica principal.

Definitivamente existe uma substancial diferença organoléptica entre o Chianti Clássico comum e a versão reserva, dois vinhos fantásticos, mas que compartilham do mesmo problema, um preço bastante elevado, tanto nas lojas especializada da região, como nas próprias vinícolas as quais, com o eno-turismo em alta no mundo todo, recebem muitas visitas de enófilos e compradores. A elevada procura faz com que a lógica do negocio seja revertida, se normalmente comprar o vinho diretamente na vinícola significa poupar alguns Euro, neste caso isso não acontece. Eu mesmo cheguei a pagar excelentes garrafas de Galo Nero, nas lojas especializadas de Milão ou Roma, a preços menores que os que me pediam na loja do produtor, dentro da vinícola,

Como já tive modo de afirmar, os Florentinos sempre foram hábeis comerciantes, os Seneses com certeza aprimoraram esta arte também, a Toscana e o Chianti “vendem” bem, os comerciantes e produtores locais demonstraram saber aproveitar da beleza desta, literalmente, maravilhosa região e eu nada tenho contra a exploração destas realidades, mas todo mundo precisa atentar para não exagerar esse aspecto, afinal Chianti Classico, mesmo quando reserva, não é Brunello di Montalcino, nem Nobile di Montepulciano, as diferenças de qualidade existem e separam estes vinhos mais do que a diferença de preço.

Radda in Chianti - Chianti Classico

Broto de Sangiovese no tradicional cordão esporoado toscano

A Toscana - videiras e oliveiras.

sábado, 22 de junho de 2013

TOSCANA ... A LENDA DO GALO NERO



... Firenze e Siena, eis ai duas cidades que, em plena Idade Média, disputaram ferozmente entre si o domínio daquela parte de Toscana que surge ao redor da Via Francigena e que hoje corresponde ao território administrativo de suas províncias, onde se produzem os vinhos clássicos da Toscana, aqueles da tradição mais antiga e com muitas historias para contar, vinhos como o Chianti Classico, o Brunello di Montalcino e o Vino Nobile di Montepulciano.

Reza a mais famosa destas historias que, cansados de décadas de guerra, com as finanças em frangalhos de tanto pagar exércitos mercenários para lutar em seu nome, os senhores das duas cidades se encontraram e bolaram uma maneira menos cruenta de resolver a questão, ficou combinado que, em determinado dia, ao primeiro cantar do galo, dois cavaleiros, um de Firenze e o outro de Siena, sairiam de suas respectivas cidades e percorreriam a estrada que as unia; no ponto em que os dois se encontrassem seria estabelecida a divisa entre os dois territórios.

Os Seneses escolheram para cantar na alvorada marcada, um galo branco e o trataram como nenhum exemplar desta raça de aves jamais tinha sido tratado até então, ração variada, galinhas, sombra e água fresca em abundancia, para mostrar para ave a importância que a inteira cidade confiava em seu trabalho canoro.

Já os florentinos, raça de banqueiros sem escrúpulos e ávidos comerciantes, escolheram um galo preto e o trataram como ninguém jamais mereceu ser tratado, trancafiaram o infeliz galináceo numa gruta sombria e escura, sem água nem comida por vários dias, quase a demonstrar qual futuro teria caso não desempenhasse a contento suas funções no amanhecer fatídico.

Inútil dizer que no dia marcado o galo branco, acostumado às mordomias e ressacas após as noitadas com as galinhas, gentilmente postas a disposição pela administração municipal, após lento espreguiçar matinal, ensaiou um canto já em hora um tanto avançada.
Ao passo que seu colega preto lá em Firenze, que mal podia esperar pelo dia da libertação de seu castigo, assim que o sol ameaçou aparecer já estava berrando a plenos pulmões, tanta a fome e a sede que o infeliz tinha sofrido nos últimos dias.

Pode se imaginar o espanto do cavaleiro chamado a defender as cores de Siena que mal tinha cavalgado estrada adentro, quando esbarrou no florentino, a pouca distancia das muras de Siena, com tamanha distancia já percorrida graças ao desempenho canoro do galo preto.

Por certo sabemos que já na Idade Media a sabedoria popular sugeria que acordos são bons, mas o melhor mesmo é se garantir, logo a cidade de Firenze organizou uma tropa de soldados mercenários com a única incumbência de vigiar as novas fronteiras, cujo símbolo era justamente um galo preto.


Esta milícia passou a se chamar “Lega Del Chianti” e atuou em patrulhamento das fronteiras entre as duas cidades durante vários séculos, seu histórico brasão foi revitalizado em épocas recentes pelo “Consórcio de tutela do Chianti Clássico”, órgão fiscalizador e promotor dos melhores vinhos desta região histórica. Hoje aproximadamente 98% dos produtores de Chianti Clássico adotam o galo preto no gargalo de suas garrafas. 


Firenze - A Basílica

Firenze - Ponte sobre o Arno e vista da Margem Direita

Firenze - Piazza della Signoria - Palazzo Vecchio

Siena - Vista da cidade e da Catedral

Siena - Torre del Mangia e vista da Cidade

sábado, 15 de junho de 2013

TOSCANA 2013

Começa hoje uma serie de post sobre a Toscana, meta de uma viagem realizada no final de Abril, quando fui de tradutor/ acompanhante com um grupo de sommeliers brasileiros em viagem educativa organizada pela FISAR, nas terras dos antigos Etruscos; desta viagem recolhi algumas historias e informações que vou compartilhar com os leitores de Vinhofortaleza, um pedaço por semana, para se ler em companhia de um bom vinho e na falta de algo melhor a fazer, começamos logo então.

A historia da Toscana se confunde com a historia de seus vinhos, fato comum na Europa, onde a humanidade convive com esta bebida desde os primórdios da civilização; temos então repertos arqueológicos que nos testemunham como os antigos Etruscos, oito séculos antes do nascimento de Cristo, produziam vinhos na atual região do Chianti Classico e faziam amplo uso dele nas cerimônias religiosas da época, com destaque para o culto aos mortos, emprestando assim ao vinho uma aura de sacralidade de grande importância social.

Já os Latinos, sucessores dos Etruscos na dominação desta região, preferiam utilizar o vinho como complemento alimentar na mesa de todo dia, reposicionando seu consumo numa esfera mais ampla e democrática, alem de fazer dele o protagonista incondicional dos banquetes e das famosas “orgias”, inaugurando assim uma utilização menos sagrada, está certo, porem um tanto mais alegre.

 Mas a consolidação do vinho e o verdadeiro crescimento de sua importância na Toscana como um todo se dá na idade Media, quando pelas terras de Toscana passava, e ainda hoje passa, uma famosa estrada chamada Via Francigena, traçada por cima da antiga Via Cassia dos Latinos, que unia a metrópole nórdica de Canterbury, na Inglaterra à Capital da Cristandade, a Cidade Eterna, Roma, morada do Papa.

Toda sorte de viajante passava por esta estrada precisando ter a fome saciada, a bolsa aliviada e, mais importante, sua sede apagada, por estes caminhos andavam desde religiosos em peregrinação até Monarcas estrangeiros com seu séquito de aristocratas, passando por comerciantes ricos e pobres, artistas, mendigos, sem esquecer-se de salteadores e aproveitadores de toda espécie da qual a humanidade já estava rica naqueles tempos medievais.

Ao longo desta via cresceram e prosperaram cidades de grande importância, das quais mencionaremos as maiores, Firenze e Siena, arqui-inimigas seculares que disputavam o domínio daquela fatia de terra, pátria de grandes tintos e de poucos, porem excelentes, brancos (Vernaccia di San Gimignano, primeiro vinho a se tornar DOCG na Itália) numa infindável contenda que envolvia também as menores, porem prosperas, cidades de Montalcino e Montepulciano.


Grupo de Sommelier FISAR no patio da sede do Consorcio do Chianti Classico - Radda in Chianti.


                                 Região do Chianti Classico, ao fundo as torres de San Gimignano 

                                                           Algumas joias da enologia toscana.

              Tradições preservadas, Mestre de Falcoaria com uma linda Águia Imperial - Villa Poggio Salvi - Mugello

                                               Caminhos da Toscana ladeados por ciprestes.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

VINHOS PARA SUPERMERCADOS E VINHOS PARA RESTAURANTES


No mundo todo existe uma pratica consagrada com relação ao comercio do vinho, o cuidado em separar os canais de venda entre o chamado ON – TRADE, onde o produto é adquirido e consumido no mesmo local (restaurantes, por exemplo) e OFF – TRADE, onde o produto é adquirido para ser consumido em outro lugar.
Como em todas as regras existem exceções, representadas no nosso caso pelas lojas especializadas, enotecas, delicatessen etc. que fazem parte do segmento off, mas que cada vez mais oferecem rótulos diferenciados e exclusivos.
Antes de tudo saibam que não se trata de extravagância ou “frescura”, mas de uma questão muito simples a ser entendida, de cunho principalmente comercial.
Para uma vinícola atender a demanda comercial do segmento off - trade, vai precisar obedecer aos critérios básicos de:

ECONOMIA DE ESCALA, implantar a mecanização onde possível, de forma a otimizar os custos e os rendimentos do processo produtivo.

RELAÇÃO CUSTO – BENEFICIO, para entender melhor este tópico vamos fazer um exemplo: entre vários vinhos de Bordeaux AOC, a tendência será que o consumidor de supermercado leve o mais barato, para conseguir isso o produtor precisará fazer um vinho que apresente os REQUISITOS MÍNIMOS DE QUALIDADE, para obter a chancela da AOC (concedida apenas para os vinhos que obedecem a determinados critérios de produção e organolépticos), garantir um custo baixo e ser competitivo na prateleira.

ENTREGA GARANTIDA, para todas as lojas de todas as redes de supermercado atendidas, a vinícola precisa ter um volume de produção tal a garantir o abastecimento, com potencial para os picos de venda sazonais, Natal, Semana Santa etc.

Sempre na ótica do custo beneficio precisamos considerar quanto esse aspecto pode influir na questão transporte da vinícola/importadora até o ponto de venda; quesito delicado, sobretudo quanto à temperatura de conservação do vinho nestas latitudes.
Fica fácil perceber que a busca da qualidade absoluta na produção do vinho conflita parcial ou totalmente, com os parâmetros descritos até agora. Em contrapartida o consumidor tem suas exigências atendidas pelo supermercado, onde encontra uma ampla escolha de vinhos de razoável qualidade, a preços acessíveis, para o consumo diário em família.

Os vinhos pensados para o segmento on – trade, seguem parâmetros bem distintos:

BUSCA DA EXCELÊNCIA, que se trate da máxima expressão de uma região, ou de um varietal, dependendo do “estilo”, o produtor tenta literalmente extrair o melhor vinho possível a partir de um vinhedo e das uvas que colheu naquele ano, lançando mão dos recursos da tradição e/ou da tecnologia.

PRODUÇÃO BAIXA, ALTA DENSIDADE DE PLANTAS, parece um paradoxo mas, para aumentar a qualidade (do vinho), precisamos diminuir a quantidade (de uva por hectare), porém com um plantio de alta densidade, assim de colocar as parreiras em “competição” entre si na busca do melhor alimento. Tudo isso conflita abertamente com a relação custo beneficio, que prega a maior produção possível, dentro dos limites do disciplinar (o da decência, aonde não existe denominação de origem controlada).

DISPONIBILIDADE DO VINHO DETERMINADA... PELA NATUREZA, em safras ruins certos vinhos não são produzidos, ou a produção cai drasticamente e o preço oscila, em outra situações o produtor é impossibilitado em aumentar a produção simplesmente pelo tamanho da propriedade; impensável nesses casos atender a demanda de uma rede de varejo nacional.

Fácil compreender que um vinho que obedeça às características descritas há pouco, possivelmente terá um preço mais alto que outro vendido em supermercado, porque o restaurante deve então optar por vinhos diferentes sim, porem mais caros?

Para respondermos a isso precisamos saber por qual motivo frequentamos os restaurantes? Será que é apenas para saciar a fome do momento? Se a pratica da eno-gastronomia está em alta no Brasil (e no mundo), talvez seja porque as técnicas arrojadas dos Chef’s, o preparo dos alimentos ou o tempero especial, que dificilmente podemos reproduzir em nossa cozinha domestica, acendem nossa curiosidade e nos estimulam a sair do conforto (e da rotina) de nossas casas e frequentar os restaurantes. Apreciar e compartilhar com nossos caros diferentes experiências culinárias nos transforma em consumidores de diferenças, em apreciadores de culturas exóticas, indo assim além do simples ato de comer para saciar nossa necessidade.

Por isso acredito ser perfeitamente natural que, para acompanhar adequadamente a experiência gastronômica, o restaurante ofereça vinhos que saiam do comum, do dia a dia, vinhos que foram produzidos obedecendo a critérios que vão além do custo beneficio, obras únicas de enólogos e produtores que buscaram ali uma excelência, dando a possibilidade ao restaurante de proporcionar uma experiência prazerosa ao alcance do cliente e que satisfaça, que nem a criação do Chef, a fome, e a sede, de cultura de quem pratica a eno – gastronomia; quando podemos fazer isso a preços acessíveis, não há nada melhor.


Existem com certeza outras razões para diversificar a ofertas de vinho entre o varejo e o restaurante, mas eu prefiro enfatizar esta, a possibilidade de realizar o desejo do próprio cliente.

O CONSUMO DO VINHO


Sabemos que o Brasil é um país produtor de vinho, porém a principal região responsável por esta produção, a Serra Gaucha, fica mais de 4.000 km distante de Fortaleza, talvez por isso o hábito do consumo de vinho na região Nordeste, seja um tanto quanto diferente dos demais.

Aqui o vinho ainda é considerado uma alternativa ao consumo de outras bebidas; explicando melhor, o cidadão que resolve beber alguma coisa fica pensando se prefere uma cerveja, um whisky ou ... uma taça de vinho, quem sabe no happy hour ou em outro momento qualquer.

Nada tenho contra o consumo de destilados, cervejas  e outras, muito menos quanto ao tomar uma taça de vinho no final da tarde, mas o lugar do vinho é tradicionalmente outro.

Desde os primórdios da civilização, dos tempos de Noé e dos egípcios que o vinho sempre foi companheiro da boa mesa, nas refeições dos pobres para ajudar a matar a fome enquanto na dos ricos era com freqüência utilizado para ostentar poder e riqueza. Habito este que atingiu seu ápice nos tempos do Rei Sol, na França dos banquetes, quando ainda os nobres não tinham extrapolado a medida da paciência da população e por isso mantinham seus pescoços longe da guilhotina.

Até as comprovadas propriedades terapêuticas dos polifenóis de que o vinho é rico, cumprem sua benéfica função quando o consumo é diário, em pequenas quantidades e sempre nas principais refeições, mantendo a função antioxidante ativa no organismo.

Por aqui o pessoal ainda cultua o habito do castigo e da abstinência (quase) total ao longo da semana, acompanhando a refeição com bebidas doces e repletas de gás que tudo tem de nefasto em sua composição; menos o álcool, é claro.
Mas ai, enfim, chega a Sexta Feira, dia de alforria etílica, nos lembramos que alguém certa vez disse que o vinho faz bem para o coração, então, por que não? Vamos tomar vinho e que seja no capricho, desça então generoso o tinto preferido, secando garrafas e mais garrafas e sem água, que enferruja, com a ajuda dos mais chegados, até todos se fartarem, e se entortarem.

Inútil dizer que dessa forma os benefícios para a saúde vão para o espaço, nos sobram apenas os efeitos colaterais da festança, especialmente antipáticos para quem nos cerca, no dia da gloria, e para nós, na manhã seguinte.

Aspecto positivo, deverá haver algum mesmo nesse caso, é que não se percebem muito as características organolépticas dos vinhos bebidos, após as três primeiras garrafas, daí não estarmos preocupados se nos ofereceram algo de qualidade mais ou menos.


Seria interessante, para a saúde publica e particular, que empreendêssemos um esforço para se tornar melhor degustadores, e menos bebedores, posso falar por experiência própria, todo degustador é um péssimo bebedor (de quantidade), mas ganha em qualidade, inclusive de vida.     

O PREÇO DO AZEITE

O PREÇO DO AZEITE

A noticia não é muito boa para os apreciadores, cada vez mais numerosos, do azeite de oliva, o aumento de preço é um fato que não tardará a aparecer, e pesar, na hora da compra deste produto que cada vez mais brasileiros aprenderam a apreciar.
A ultima safra de azeitona na Europa foi muito escassa, por causa da seca que atacou o Sul daquele continente, afetando assim a bacia do Mediterrâneo, região que responde pela produção de azeite no mercado internacional.

Espanha, Itália e Grécia, maiores produtores de azeite do mundo, amargaram perdas pesadas nas colheitas que começaram em Novembro 2012 e se protraíram até Janeiro 2013, isso gerou uma diminuição da matéria prima e um consequente aumento no preço para todas as categorias de azeite, desde o mais importante, o extra virgem, até o azeite de sansa de oliva (obtido através da prensagem do caroço da azeitona misturado em seguida a azeite extra virgem e azeite de oliva refinado, o azeite de sansa é usado principalmente na culinária, como base para molhos, refogados etc.).

O impacto da safra ruim chegou a incidir em quase 60% de aumento no preço do azeite a granel na Espanha, pais referencia de mercado enquanto maior produtor do mundo, por sorte, devido aos estoques existentes das safras anteriores, foi possível conter o aumento em patamares mais amenos, entorno de 30% a 40%.

O executivo responsável pela America Latina da Olitalia, a marca de azeite mais distribuída no mundo, o italiano Sauro Sardi, nos conta que “...esse aumento repercutiu no mercado de azeite internacional, não pode ser tratado como um a decisão apenas de um pais ou de uma industria, a escassez de matéria prima  aconteceu em toda a bacia do Mediterrâneo, daí o aumento de preço vai aparecer aos poucos ao longo do ano, a medida que os importadores brasileiros repuserem seus estoques com produto novo;  fatalmente o preço na gôndola vai ficar mais caro”.


A noticia boa é que o mercado de azeite, aos poucos, está se “moralizando”, ressalta Sauro “... o Ministério da Agricultura brasileiro tomou, no ano passado, uma iniciativa louvável contra aqueles azeites que vulgarmente são conhecidos como “batizados”, por conter parte de óleo de soja. O MAPA, em parceria com a ANVISA, adotou a medida que obriga o exportador/importador a submeter o azeite a analises laboratoriais acuradas, de modo a impedir a entrada no Brasil de azeites de qualidade e procedência duvidosas, isso para as industrias que trabalham com cuidado e seriedade, a exemplo da Olitalia, é uma noticia muito boa pois elimina uma concorrência desleal, além de representar  para o consumidor uma importante garantia de qualidade”. 

Bom, isso é verdade, mas passaríamos melhor sem o aumento de preço.

OS VINHOS DO BRASIL

Os vinhos do Brasil

Muito se tem falado sobre a qualidade crescente dos vinhos do Brasil, cada vez mais críticos elogiam abertamente o viés de melhora que tomou conta da vitivinicultura nacional.
Para quem e' profissional do vinho não há novidade nisso, considerando que meu convívio com os produtores do Rio Grande do Sul vai lá pela década, posso dizer que acompanhei de perto os progressos que aconteceram.

Em primeiro lugar vale destacar a cuidadosa combinação dos elementos solo, clima e variedade, que hoje obedecem a critérios de qualidade absoluta, com menos concessões a "tendências" comerciais e passageiras.

Em seguida temos a revolução tecnológica que aconteceu nas vinícolas, para concluir no design arrojado de garrafas e rótulos que tornaram mais leve e moderna a imagem dos vinhos nacionais.

Que fique claro, o caminho a percorrer ainda e' longo, a qualidade aumentou e o potencial esta a vista de todos, mas precisa ser explorado com foco na qualidade e na busca da vocação territorial que pode, e deve, ir além dos já consagrados espumantes.

O que falta então para vermos o consumo dos vinhos do Brasil ocupar a preferência dos consumidores conforme sua qualidade merece?
O preço não ajuda e' verdade, mas este e' um problema comum aos bons e aos ruins, aos nacionais e aos importados; a relação custo x benefício faz pender o fiel da balança por um único lado, sempre o mesmo, em se falar de vinho.

Minha experiência na linha de frente da profissão me diz que precisa vencer um preconceito que o consumidor ainda não superou, muitos ainda olham para o vinho brasileiro com aberta desconfiança.
As vinícolas em primeiro lugar, mas também as lojas e os restaurantes precisam investir mais em iniciativas voltadas a divulgar este novo momento do vinho nacional, todos tem a ganhar.

Do contrario vai continuar por muito tempo ainda na mesma, com muitos consumidores que preferem levar vinhos inferiores em qualidade, mas com o apelo da região mais famosa ou do produtor mais conhecido, privando-se assim do prazer de descobrir novos aromas e sabores, exatamente os que se escondem dentro de muitas garrafas de vinhos do Brasil.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

CRUS DA BORGONHA VÃO A LEILÃO PARA AMENIZAR A CRISE NA EUROPA


Para combater a crise na Europa e enfrentar o corte nas verbas que o Primeiro Ministro francês  François Hollande impôs aos municípios, o Prefeito de Dijon recorreu a uma solução criativa organizando um leilão de suas "joias da coroa".
Vinhos guardados desde 1960, pelos vários prefeitos que se sucederam à frente da capital da Borgonha, foram vendidos para atender a demanda de serviços sociais crescente na cidade.
O habito de adquirir e guardar na adega municipal alguns entre os rótulos mais emblemáticos desta mítica região, sempre foi praticado pelos prefeitos de Dijon, só que nunca, até agora, surgira a ideia de leiloar parte deste "tesouro" para socorrer a população mais necessitada.
No leilão realizado no castelo do Duque de Borgonha cerca da metade do estoque de preciosidades liquidas foi vendido; 3.500 garrafas, pertencentes a diferentes safras, para uma arrecadação de mais de 150.000,00 Euro, um valor médio de 43,00 Euro cada, com o pico inacreditável de 4.800,00 Euro pagos por um desconhecido colecionador chines por uma garrafa de 1999.
80% desse valor será utilizado em obras de assistência social para os cidadãos mais necessitados, o restante será reinvestido em vinhos para reabastecer a adega municipal de novos "Crus".
Se a crise não melhorar, da próxima vez poderão tentar um leilão de mostarda.

Fonte: www.fisar.org

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

SAINT EMILION, UMA CLASSIFICAÇÃO QUE NÃO AGRADOU NINGUÉM

A esperada classificação dos Chateaux de Saint Emilion, que saiu no setembro 2012, após ter sido abortada em seu primeiro esboço, ainda em 2007, acabou de ser detonada, de novo.
Parece que três Chateaux não concordaram com os critérios de avaliação da comissão de controle da AOC, o ponto mais polemico tem sido o do critério da degustação organoléptica.



Assim o Chateau Croque - Michotte, o Chateau La Tour du Pin Figeac e o Chateau Corbin - Michotte, encarregaram seus respectivos departamentos jurídicos de resolver a questão, diante do tribunal administrativo de Bordeaux.
O La Tour du Pin Figeac e o Corbin - Michotte perderam o status de "Grand Cru Classe" e o Croque - Michotte se viu negada a promoção a "Grand Cru Classe" ficando apenas "Grand Cru"; os três chateaux acusaram erros na seleção e, sobretudo, na degustação das amostras.
Desde 2006 que em Saint Emilion se tenta varar uma classificação mais atualizada, mas até agora não se encontrou consenso, a primeira tentativa foi abortada um ano depois, em 2007 e esta ultima, varada em Setembro, ao que parece somente será resolvida na justiça.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

QUAL É O CUSTO DE PRODUÇÃO DE UM BORDEAUX?

Sobre como se faz um vinho, neste blog, tratamos inúmeras vezes, falamos das técnicas diferentes, as tradicionais, aquelas mais modernas, no Velho Mundo e no Novo, no vinhedo e na vinícola;  mas existe uma pergunta que não é fácil de responder, quanto custa "fazer" o vinho? O estudo da entidade francesa  "Chambre d'Agriculture Gironde", de Bordeaux, publicou um estudo que pode nos ajudar a encontrar a resposta.

A pesquisa, muito detalhada e minuciosa, se baseia no calculo dos preços médios (preço bruto, com impostos embutidos onde e quando eles incidem) de todos os aspectos envolvidos, desde a mão de obra que, na França, custa entorno de 16/18 Euro/hora no campo e 23,00 Euro/hora para o trabalho na vinícola, mais especialístico, passando ao custo dos maquinários, dos fertilizantes, rotulagem etc.
Dai foi feita uma simulação entre duas empresas fictícias  um "Domaine X" que produz apenas vinho a granel trabalhando no limiar da decência da relação custo x beneficio (estamos falando de Bordeaux AOC, não esqueçam), em contraposição ao "Chateau Y" que produz vinho engarrafado, com maiores atenções, rendimentos mais baixos e cuidado com o meio ambiente.


Vamos então verificar as diferenças: no vinhedo o Domaine X apresentou um custo de 5.340,00 Euro por hectare, contra os 5.633,00 do colega Chateau Y, mais exigente; uma diferença nem muito grande.
Já na hora da vinificação a distancia entre os dois aumenta, enquanto X apresenta um custo de 1.250,00 Euro/hectare (0,25 Euro/litro), eis que o Y gastou 1.425,00 Euro, ou seja 0,29 Euro / litro.
Temos então o custo de produção total, para o vinho a granel onde o Domaine X totalizou 1,32 Euro/litro e o Chateau Y 1,41 Euro/litro.


A musica muda quando se fala de vinho envasado em garrafas de 750 ml., uma situação que preocupa apenas Y; temos então um custo de produção de 1,06 Euro/gfx750ml. somamos a isso o dinheiro gasto com engarrafamento, 0,52 Euro/gf., mais rotulagem e comercialização, aproximadamente 1,30 Euro/gf. (mais que o custo de produção!) e chegamos ao custo final da produção de uma garrafa de Bordeaux AOC, ou seja 2,88 Euro/gf, R$/gf. 7,66, ao cambio de hoje.

Bom, a partir daí até o preço que pagamos nas gondolas no Brasil a diferença é dada pela margem de lucro do produtor, pelo frete, variação cambial, margem do importador, a incidência dos impostos pagos na nacionalização (este tópico vem antes do anterior, só mudei a ordem por amor à prosa), daqueles cobrados cada vez que muda de Estado (sic!), e de distribuidor para varejo e/ou restaurante (sic + sic!).
Enfim, aqui entre nós, só gostando mesmo de vinho.

fonte: winenews.it
 

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

TERRORISMO ENOLOGICO 2 - OS DETALHES DO ATAQUE A VINÍCOLA ABRAXAS


Ataque pode parecer uma palavra um pouco exagerada, sobretudo para o pacato mundo do vinho, ainda mais quando o cenário é uma bucólica ilha no meio do Mar MediterrâneoPantelleria, no caso, mas não me ocorrem outras palavras para definir o que aconteceu na Abraxas, na noite entre os dias 27 e 28 de Dezembro de 2012, vejam a seguir como aconteceu, segundo o relato do proprietário, Calogero Mannino.

"Não sei quantas pessoas foram, penso mais de um pois chegaram a derrubar o muro da vinícola para poder entrar ... pareceu quase uma operação de guerra, com uma violência fora do comum, sim porque  forçar uma fechadura, até abater uma porta, de certa forma, é compreensível,  mas chegar ao absurdo de derrubar uma parede é de assustar ... quando entro na minha adega agora e vejo nas outras paredes que se formou um rodapé vermelho na altura de cerca de 40 cm. do chão, fico impressionado; aconteceu que quando os tanques foram esvaziados o vinho inundou a vinícola, formando uma verdadeira lagoa e defluindo depois lentamente através dos canais de drenagem...o mundo do vinho não merecia isso, além do que aconteceu comigo, nós precisamos conservar aquela tranquilidade, aquela serenidade que é tipica do nosso mundo, não podemos aceitar episódios como esse".

Além de tudo, tentando contabilizar o prejuízo sofrido pela Abraxas que, vale lembrar, é uma vinícola premiada na Itália e no mundo, vamos somar: 70.000 litros de vinho jogado fora, sendo 35.000 de passito das safras 2010 e 2011, 24.000 litros de tinto Sicilia DOC 2012, 7.500 litros de branco Pantelleria DOC 2012, além de outros tanques pequenos.
Um prejuízo total que, ao custo de produção, pode ser estimado em cerca de 500.000,00 Euro mas que, ao valor de venda, representa um prejuízo real de cerca de 1 milhão de Euro; isso, para uma vinícola que possui 26 hectares de vinhedos, pode ser fatal.
Pois é amigos, foi um ataque mesmo, infelizmente.

fonte: winenews.it

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

PROSECCO OR NOT PROSECCO, THAT'S THE QUESTION

Já tratei neste blog de Prosecco, do excelente desempenho deste vinho no mercado internacional, bem como da dedicação de alguns produtores na busca de uma qualidade diferenciada, está então na hora de ouvirmos o lado "B" deste velho disco.
Vamos conhecer melhor o protagonista desta historia, tradicional Charmat da região aos arredores da cidade de Treviso, que se tornou celebre por ser base de receita de vários aperitivos nos charmosos bares de Venezia, ao longo do seculo XX.
Antes de tudo o Prosecco passou por uma reviravolta alguns anos atrás, quando os produtores da região, acreditando no potencial de venda deste espumante leve, frutado e agradável, de preço extremamente competitivo, apostaram na procura pelas borbulhas de consumidores de alguns países emergentes, cuja "sede" era (ou é) inversamente proporcional ao poder aquisitivo (e talvez ao conhecimento).
Partindo deste conceito deram inicio a "Operação Prosecco", criando uma Denominação de Origem, DOC, com delimitações territoriais muito maiores que aquelas das regiões históricas do Prosecco, Conegliano e Valdobbiadene, englobando territórios sem nenhuma tradição, esticando os limite até regiões que jamais tiveram se quer a mínima conexão com o  nosso, em nome da produção em larga escala, a baixo custo e para largo consumo, um verdadeiro commodity do vinho.
Chegando ao cumulo de estender os limites territoriais para plantio da uva que dá origem a este vinho, até os arredores da cidade de Trieste, na região do Carso, já na divisa com a Eslovênia (ver mapa abaixo), onde existe uma vila chamada Prosecco na qual se cultivam desde antigamente uns poucos filares de uva Glera e justificar assim, perante a União Europeia, o direito de se apossar de um nome (Prosecco) que, até então, era usado para definir de forma geral os espumantes produzidos a partir desta uva, qualquer fosse sua origem (inclusive do Brasil).


Uma operação que Alfonso Cevola, influente Wine Blogger italiano, utilizou a língua inglesa para definir como "The rape of Veneto" (mais ou menos ... O estupro do Veneto), condenando sem apelo o processo de popularização de um vinho cuja terra e origens foram deturpadas e sacrificadas no altar do lucro desmedido e a qualquer custo, num processo de perversão que descaracterizou completamente uma região inteira, para transformá-la em uma fonte de abastecimento de espumante medíocre destinado ao consumo de quem não pode se permitir um Champagne ou um outro espumante de qualidade.
Nem todos os produtores porém entraram nesta ciranda, alguns dos mais tradicionais resolveram reagir para  resguardar seu patrimônio que, para quem vive do campo, é a terra e a tipicidade de seus frutos.
Na tentativa de salvar o possível foram instituídas denominações mais especificas, elevando a região clássica de Conegliano e Valdobbiadene à Denominação de Origem Controlada e Garantida, DOCG, e reconhecendo oficialmente a denominação adjuntiva "Rive" de acordo com o conceito de Cru.
Esta reação pode e deve orientar o consumidor na hora da escolha, procurar as especificações nos rótulos de Prosecco é um bom habito para não compactuar com o deturpamento do patrimônio cultural de uma região.

fonte: www.vinoalvino.org / acevola.blogspot.it

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

VENDA DE PROSECCO NO REINO UNIDO ULTRAPASSA CHAMPAGNE E CAVA

Talvez seja a crise ou quem sabe uma serie de fatores que conjugam preço competitivo e qualidade crescente, mas o fato é que o Prosecco italiano, no ano de 2012, superou de um golpe as vendas de Champagne e  Cava, desde sempre lideres de venda no exigente mercado britânico.
Segundo Alain Guilpain, executivo da rede de lojas Tesco em entrevista ao jornal The Gardian "...Um crescimento ainda mais surpreendente considerando que até cinco anos atrás o Prosecco era muito pouco conhecido em nosso país, cresceu sobretudo em virtude da propaganda boca a boca e, no ano de 2012, aproveitou a crise graças a sua excelente relação qualidade x preço", vale lembrar que a Tesco é a rede de supermercado líder no Reino Unido quando se fala em venda de vinho.
Mas o fenômeno não parou por aí não, o Waitrose, gigante especialista em vendas on-line confirma "...o Prosecco cresceu 23% sobre 2011, ao passo que o tradicional Champagne apenas 6%", dado no final das contas positivo para os franceses, considerando o quadro de crise que impera na União Europeia.
Estes números refletem uma tendencia que vem desde 2007, ou seja desde o começo da crise, dando conta que o consumo de Champagne já caiu a -30%, diante de um crescimento, em vendas, de Cava e Prosecco de 50%, no mesmo período.
Uma tendencia que na verdade se repete nos principais mercados e fez as vendas de Champagne fechar 2012 com uma queda de - 3% total, somando pouco menos de 314 milhões de garrafas, com uma queda do preço médio por garrafa e uma retração muito forte em mercados importantes como Espanha Itália  países gravemente afetados pela crise atual.
Que toque então o despertador para a industria vinícola (e para o governo) do Brasil, com a qualidade (e o preço competitivo!) de nossos espumantes, está mais do que na hora de se organizar para darmos a escalada a um dos mercados mais importantes do mundo, até por que já já a crise passa e o Champagne vai voltar com toda sua força.

fonte: winenews.it

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

NOTAS DE DEGUSTAÇÃO - CASA VALDUGA GRAN IDENTIDADE CORTE 2009

REGIÃO: Serra do Sudeste - Encruzilhada do Sul - RS
PRODUTOR: Casa Valduga
COMPOSIÇÃO: Arinarnoa, Marselan e Merlot
SAFRA: 2009
ESTAGIO: 12 meses em barricas francesas e mais 12 meses em garrafeira.
TEOR ALCOOLICO: 13,5%


Visual: Cor rubi muito intensa e profunda, o reflexo violáceo no halo do vinho deixa claro que se trata de um vinho jovem muito intenso e encorpado, acrescento com perspectivas de guarda bastante longa, talvez 8 a 10 anos, a meu ver.

Olfativo: O aroma deste vinho é bastante intenso, não foi decantado, pois não achei necessário, portanto os aromas que compõem seu amplo bouquet surgiram em camadas sucessivas, a principio a fruta preta e vermelha madura, seguida por uma presença vegetal potente, mas não defeituosa, as notas de tostado, de café e especiarias trazidas pela passagem na madeira, aparecem em seguida e ajudam a "temperar" o forte vegetal (Arinarnoa, o produtor não declara a porcentagem mas acredito que este varietal seja a maior parte ou, pelo menos a que mais impacta). A grande intensidade e a persistência dos aromas mostram a personalidade e o potencial de evolução do vinho.

Gustativo: Muito tanino, vinho encorpado, preenche a boca, enxuga as papilas que, em seguida, começam a ativar a salivação, sinal de uma acidez vibrante que indica potencial de envelhecimento. Os taninos não são verdes, mas ainda assim bastante "duros", o Gran Identidade pode surpreender os amantes dos vinhos mais suculento e frutado de outras regiões do Novo Mundo. Não apresenta nenhum amargor num final de boca longo e persistente. Pede uma carne vermelha de sabor marcante, escolhi um Baby Beef assado com cuscus marroquino que harmonizou muito bem.

Conclusões: Se trata de um vinho que representa a gama alta da vinícola  o preço de mercado é superior a R$ 100,00, portanto uma aposta da Casa Valduga na busca da qualidade, bem sabendo que nesta faixa de preço a resistência do consumidor com o vinho brasileiro, sobretudo tinto, é mais elevada. Acredito que o vinho seja um pouco tânico  mas vai evoluir bem nos próximos meses, as notas de frutas, vegetais e tostadas que hoje estão um pouco "desordenadas" vão integrar-se melhor e fundir-se num bouquet mais harmônico  assim como os taninos ficarão mais macios e sedosos, o potencial de envelhecimento é elevado, um vinho de personalidade marcante.

CHATEAU D'YQUEM DISPENSA A SAFRA DE 2012



Demonstrando zelar pela fama secular que faz do Chateau d'Yquem um dos grandes vinhos de Bordeaux (e do mundo), a multinacional francesa Louis Vuitton Moet & Hennessy, LVMH, resolveu não engarrafar o mais celebrado dos Sauternes na safra de 2012.
Motivo da decisão radical, que subtrairá cerca de 100 mil garrafas de verdadeiro néctar dos sonhos de consumo dos enófilos abastados do mundo todo, foi a falta de condições climáticas necessárias para o desenvolvimento da "podridão nobre", também conhecida como "Botrytis Cinerea", ou seja aquele fungo que, ao atacar os bagos de uva, geralmente da casta Semillon, no final da maturação, os desidrata, concentrando assim todos os açúcares e dando origem a um vinho de uma qualidade impossível de ser reproduzida em outras latitudes.
Porém, segundo o enólogo de confiança da LVMH, Pierre Lurton, "...Tínhamos tudo para dar certo, desde o terroir incomparável do Chateau, até a estrategia certa na adega, mas a natureza este ano faltou ao compromisso e o clima não nos permitiu engarrafar o vinho..." gerando assim um prejuízo comercial da ordem de uns 25 milhões de Euro, "... mas, quando se tem a responsabilidade de zelar um nome e uma marca secular, precisa saber o momento de fazer um sacrifício, não se pode tratar o Chateau d'Yquem com os mesmo parâmetros de um qualquer balancete empresarial."


Sacrifício que o Chateau d'Yquem já precisou enfrentar, umas dez vezes nos últimos 200 anos de vida, curiosamente nos últimos tempos tem acontecido a intervalos regulares, tanto que, além de 2012, não foram engarrafadas as safras de 1952, 1972 e 1992, uma coincidência, sem dúvida(?)

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

NOTAS DE DEGUSTAÇÃO - CHAPELLE SAINT-MARTIN PUISSEGUIN ST EMILION AOC


REGIÃO: Puisseguin Saint- Emilion A.O.C. - Bordeaux
PRODUTOR: Antoine Moueix
COMPOSIÇÃO: 70% Merlot, 25% Cabernet Franc, 5% Cabernet Sauvignon
SAFRA: 2009
ESTAGIO: 30% do vinho passa de 6 a 8 meses em barricas francesas.
TEOR ALCOOLICO: 13,5%


Antoine Moueix é um produtor que fez sua fortuna na margem direita de Bordeaux, é um verdadeiro especialista em Saint Emilion e produz o Chapelle Saint - Martin a partir de vinhedos orientados em direção Sul, em solo argiloso rico posto sobre a plataforma calcária, responsável pela personalidade dos bons vinhos de Saint Emilion.

VISUAL: Vermelho de media intensidade, reflexos de tonalidade quase granada, muito bonita a cor, o brilho deste vinho é quase luminoso.

OLFATIVO: Com um pouco de paciência aparecem todas as matizes aromáticas de um Saint Emilion de raça, as frutas pretas maduras, com destaque para a ameixa, seguidas pelas especiarias, as flores vermelhas e os toques terciários deixados pelo discreto uso da madeira;  um Saint Emilion feito como sugere o manual de instruções destes vinhos elegantes e aveludados, a intensidade não é exuberante mas muito boa, a persistência não decepciona.

GUSTATIVO: Um bom Bordeaux precisa de equilíbrio, todas suas características precisam estar bem balanceada entre si, nada pode deturpar o conjunto, estas regras no Chapelle Saint - Martin são seguidas a risca, o vinho tem um ataque quase suave, mas logo se apresenta enxuto e demostra personalidade e raça, a acidez ainda presente ajuda a "molhar" a sensação de secura e o vinho amacia a garganta e escorre suavemente pelo palato, nenhuma aresta, absolutamente nenhum amargor, nada se sobressai, a não ser um conjunto harmônico que deixa a impressão que o preço pago, um pouco acima dos equivalentes do novo mundo, tenha valido a pena. Afinal, como dizia Emile Peynaud, "tudo se faz como em Bordeaux", o resultado é que nem sempre é o mesmo.

TERRORISMO ENOLOGICO!!! MAIS UM ATENTADO NA ITÁLIA, DE NOVO.

O que está havendo na Itália? Parece que os atos vandálicos contra o vinho estão se tornando uma triste moda naquele que é o maior e mais antigo pais produtor de vinho do mundo.
Esta pergunta precisa ser respondida com urgência  pois nestes últimos dias de Dezembro mais um crime contra o vinho aconteceu, desta vez na Sicília, mais precisamente na ilha de Pantelleria, um pequeno paraíso banhado pelas águas do Mediterrâneo, situada entre a ilha da Sicília e o litoral africano.
Na noite entre o dia 27 e 28 de Dezembro, foi invadida a vinícola Abraxas, de propriedade de Calogero Mannino, ex ministro da agricultura italiano; o vândalo, ou os vândalos, já que ainda não foram divulgados detalhes da investigação, esvaziou o tanque onde estava armazenada parte da safra 2012, além de despejar no esgoto 25.000 litros! de Passito di Pantelleria, a joia da coroa da produção enológica local, das safras 2011 e 2010.
Parece que alguém andou se inspirando na façanha daquele outro criminal que poucos dias atras detonou 60.000 litros de Brunello di Montalcino da Case Basse, na Toscana.
Um serio problema que está preocupando todos os produtores italianos, já que o vinho, até hoje, sempre foi poupado pelo homem mesmo em seus piores momentos de fúria bestial, emblemático o caso dos nazistas que ocuparam a França durante a segunda guerra mundial, mas não tocaram em uma unica videira de Champagne, salvo deportar e prender nos campos de concentração o proprietário da vinícola se isto lhes apetecesse.
A parte as declarações de solidariedade dos representantes do ambiente enológico italiano e internacional, até o momento não se conhecem maiores detalhes sobre o triste acontecimento; fica o alerta, nem o vinho hoje está mais a salvo da insanidade humana; tomara que a moda não se espalhe mundo afora.